Febre, Aliada ou Inimiga?

 

Hipócrates (séc. V.a.C.), tido como o pai da Medicina afirmava que “A Natureza era a Mãe de todas as coisas”. É também comum ouvirmos dizer, entre nós, que “A Natureza é sábia”. Qual o verdadeiro significado destes axiomas? O que eles pretendem traduzir é que a Natureza sabe o que faz, nomeadamente, ao dotar todos os seres de mecanismos naturais de defesa cuja função é, naturalmente, proteger e manter saudáveis os organismos vivos.

A Febre é um desses mecanismos de defesa. Sempre que uma infeção surge, seja viral, bacteriana ou de outra natureza, e que constitua uma ameaça à vida do organismo, esse mecanismo de defesa é acionado, a temperatura sobe, tentando, de acordo com a gravidade da situação e do respetivo organismo, aproximar-se de uma temperatura à qual poucos microrganismos conseguem sobreviver, essa temperatura ronda os 40ºC.

De acordo com a Medicina Convencional, dado que a febre é considerada a doença, a primeira coisa a fazer é eliminá-la ou baixá-la através do recurso a antipiréticos e anti-inflamatórios ou através de mezinhas como o resfriamento das têmporas ou do corpo com compressas húmidas e frias, ou mesmo, a imersão do corpo em água tépida ou fria. Todos estes procedimentos são contraproducentes pois geram uma desigualdade na luta entre o Sistema Imunitário, que é suprimido, e o patógeno que se fortalece e ganha terreno.

Na perspetiva da Medicina Homeopática, a febre é vista de forma diferente, não como a doença em si mesma, mas sim como uma reação natural e favorável do organismo face ao microrganismo causador da patologia, por isso, não suprime a febre, de forma brusca e violenta, mas centra a sua atenção no estado do paciente, independentemente da sua etiologia, isto é, o medicamento homeopático  não é específico de um diagnóstico nosológico nem de um agente agressor seja vírus, bactéria ou outro microrganismo, o tratamento far-se-á em função do quadro geral que o paciente apresenta.

Como são, então, tratados os estados febris em Medicina Homeopática?

 

A primeira coisa a observar é o estado do paciente e da globalidade dos sintomas físicos, mentais e emocionais, por exemplo, está agitado, ansioso ou prostrado? Tem sede? Mantém o apetite apesar da febre ou, se transpira, sobretudo, de que parte do corpo?

Outra questão importante é saber se existe uma causa evidente, seja emocional, seja ambiental, tal como, a exposição ao frio, seco ou húmido, ou ao calor. O homeopata deve também questionar acerca do ritmo do aparecimento da febre, isto é, a febre surgiu de forma brusca e violenta ou de forma insidiosa e progressiva.

A resposta a estas e outras questões são fundamentais para avaliarmos a singularidade do paciente e é sobre essa individualidade que o remédio deverá ser selecionado.

Alguns exemplos de remédios mais comuns de estados febris

Embora, como já referimos, cada paciente tenha uma forma peculiar de manifestar a sua doença, os estados febris, mesmo provocadas por agentes patogénicos diferentes, apresentam uma evolução clínica semelhante e os modos reacionais estão mais ou menos estereotipados para cada fase deste tipo de situações, nomeadamente, na fase de invasão.

Assim, após os primeiros sintomas se começarem a manifestar, nomeadamente, a subida de temperatura, para poder eleger o remédio homeopático apropriado, que irá tratar o doente e, por essa razão, baixar naturalmente a febre, convém observar se a febre teve um aparecimento brusco ou progressivo. No primeiro caso, pensaremos em remédios como Aconitum napellus, Belladonna ou Apis mellifica. No primeiro, não há transpiração, o paciente está muito ansioso e, geralmente, os sintomas manifestaram-se após exposição a frio seco. No caso de haver transpiração abundante da cabeça, ruborização do rosto, midríase, podendo ocorrer delírio, devido à elevada temperatura, Belladonna estaria bem indicado. Apis será um remédio importante em situações de inflamação, se da garganta, com forte inchaço da úvula.

No caso de a febre se manter abaixo dos 39℃ e o seu aparecimento ter sido lento, poderemos, em função de cada caso, pensar em remédios como Ferrum phosphoricum, Gelsemium sempervirens, Bryonia alba, Rhus toxicodendron ou Mercurius solubilis.

Embora estes sejam alguns dos remédios mais indicados em estados febris provenientes de um estado inflamatório ou infecioso, na sua eleição, recomendamos o aconselhamento de um técnico especializado que poderá mais corretamente estabelecer a analogia entre o quadro clínico do paciente e o genius do remédio apropriado em cada caso.

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