Nas sociedades ocidentais, designadas também por modernas, nas quais se privilegia e valoriza a aceleração, tanto do corpo como da mente, e se adotaram, de forma massiva, hábitos alimentares e estilos de vida que pouco respeitam a integridade física e mental, bem como a natureza do ser humano, as doenças cardíacas foram ganhando terreno, continuando, ainda, a encabeçar a lista das inúmeras, e igualmente crescentes, doenças crónicas com que nos vamos deparando atualmente.
Entre nós, as doenças cardíacas, sendo as mais comuns e conhecidas, o infarto do miocárdio, a degeneração valvular, a miocardite e a pericardite, estão, invariavelmente, associadas a hipertensão arterial e níveis de colesterol e de triglicéridos elevados. Por esta razão, a medicina moderna tenta tratar, e também prevenir, a subida destes valores, exclusivamente, através de medicação.
Contudo, e apesar da medicação, largamente, utilizada entre a grande generalidade da população mundial, as doenças cardíacas continuam a aumentar.
Como poderemos explicar este fenómeno?
Uma das razões, para que esta situação exista e se mantenha, poderá ser a forma como lidamos com determinados valores, nomeadamente, o colesterol e triglicéridos, vistos como o principal inimigo e o grande causador de todas as doenças cardiovasculares, sem se tentar perceber o que o produz e porque está elevado. Na verdade, o colesterol tem uma função importante no nosso organismo. O fígado produz naturalmente colesterol, visto que a gordura é fundamental para a formação da membrana de todas as células. Ao contrariar este processo, baixando, artificialmente, a produção de colesterol, não apenas se impede a formação da membrana celular, como também, se reduzem os níveis de Coenzima Q10, extremamente importantes para a contratilidade adequada do músculo cardíaco e bom funcionamento do coração em geral.
A outra razão reside no facto de não se valorizar, ou, de tentar compreender a causa que originou qualquer que seja a doença. Antes de fisicamente se manifestar, o corpo dá sinais e manifesta sintomas que, na grande maioria dos casos, não são valorizados. A tensão arterial elevada é um desses sinais, o importante seria compreender por que razão ocorreu e atuar nessa causa específica e individual, alterando hábitos de vida e retirando tudo o que possivelmente tenha contribuído para o seu aparecimento, nomeadamente o excesso de trabalho, físico e mental, e de preocupação.
Numa medicina mais remota e milenar, como a Medicina Tradicional Chinesa, esse é o aspeto que é privilegiado e tratado antes que surja uma hemorragia, isquemia, alteração valvular ou qualquer outra manifestação patológica. A visão holística do ser humano, a sua relação com o meio ambiente e a ideia de que tudo está conectado e tudo se organiza e funciona de igual modo e em conformidade com as Leis do Universo, permite uma interpretação e compreensão da fisiologia e do funcionamento do nosso organismo, estabelecendo uma comparação da natureza humana com a natureza da qual fazemos parte e na qual estamos inseridos.
Uma das analogias extraordinárias que é feita por esta medicina refere-se à comparação do comportamento do coração com o Sol. Na natureza, o Sol é o que aquece e permite toda a vida na Terra, mas o calor que emana tem que ser moderado, se for fraco, não há vida por falta de calor, se for excessivo, resseca, queima e mata.
O mesmo se passa com o coração. Ele é o órgão que aquece e distribui o sangue por todo o corpo. O coração é o órgão mais quente e mais yang do nosso corpo. Se esfriar, por maus hábitos, alimentação errada, ansiedade excessiva, falta de movimento, de ação, ou de dificuldade em lidar com as emoções, a circulação e o pulso ficam lentos, o sangue não se distribui de forma harmoniosa e uniforme por todo o corpo, podendo ocorrer inúmeras doenças, como cianoses, aterosclerose e outras manifestações ligadas à má circulação e má distribuição do sangue.
Se, porém, e ao invés, o coração aquecer demasiado, quando, por exemplo, vivemos em constante stresse e ansiedade, com uma mente, permanentemente, em estado de alerta, a circulação acelera, originando situações de hipertensão arterial, insónia, infarto do miocárdio, trombose, AVC, além de outras manifestações patológicas, nomeadamente, relacionadas com o funcionamento dos rins, já que o coração deixa de assegurar uma boa distribuição de sangue, levando à perda da função renal. O calor e a aceleração da circulação no interior dos vasos acabarão por ressecar e “queimar” os vasos sanguíneos e as artérias, originando a subida da tensão arterial, devido à perda da elasticidade dos vasos, podendo levar à sua rutura e ao aparecimento de doenças como arteriosclerose, trombose, infarto ou AVC, bem à semelhança do que ocorre na natureza e com toda a vida na Terra, quando o sol, emana calor em excesso.
Para prevenir estas e outras situações, é muito importante seguir um estilo de vida equilibrado, que respeite a alternância entre a atividade física, mental e profissional e o repouso, atividades lúdicas e descanso do corpo e da mente, além de uma alimentação adequada a cada situação específica.
Como tudo na vida, também para ter um bom coração e uma excelente circulação, necessitamos de seguir algumas regras de conduta, deixamos aqui as principais:
Regra nº 1: Respeite os horários de dormir e de acordar. Diz a sabedoria popular que “deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer”, este é um provérbio de grande sabedoria, que deveremos seguir o mais rigorosamente possível. É no amanhecer que a natureza apresenta toda a sua força e pujança, caminhar ou exercitar-se de manhã ao ar livre, permite-nos assimilar esse vigor.
Regra nº 2: Pratique exercício que alongue e movimente todo o corpo, de forma suave e equilibrada, como, por exemplo, Tai Chi Chuan, Qi Gong, Yoga, Pilates ou outro. Estas práticas trabalham o movimento harmonioso com a respiração, fatores indispensáveis à vida. O movimento evita estagnações e bloqueios do sangue e, através da respiração, o oxigénio é levado a todas as células.
Regra nº3: Respeite os horários das refeições, não salte refeições, alimente-se bem de manhã, que é ó horário da força máxima da digestão, para que todo o alimento seja bem absorvido e possa nutrir todo o corpo e a mente.
Regra nº4: Estabelecer um horário de trabalho e não o exceder. Dedicar o final do dia a uma atividade lúdica ou artística, estar com amigos, relaxar ouvindo música, acalmar a mente ou meditar.
Regra nº5: Depois de jantar, não se fixe em programas televisivos ou redes sociais que possam gerar agitação da mente, impossibilitando a chegada do sono.
Regra nº6: Tente manter um sono reparador e de qualidade, se possível de cerca de sete a oito horas. É durante o sono que o nosso corpo se regenera e forma todo o tipo de células. Respeite e permita que o corpo o faça com qualidade.
O coração controla a mente e a fala. Uma mente muito agitada e uma fala acelerada e incoerente mostram uma desarmonia do coração. Uma mente calma, uma boa capacidade de raciocínio e de lógica, mostram um coração saudável e em harmonia.
Ter um Bom Coração, exige disciplina e algumas regras, não apenas medicamentos.
É, portanto, importante pôr estas regras em prática, não esquecendo que o coração é o “Sol” que ilumina a mente e assegura a vida no corpo.